domingo, novembro 15, 2009

ONU alerta para Brasil não esconder problemas na Copa

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, alertou nesta sexta-feira o governo brasileiro para não cair na tentação de querer "limpar as ruas" para apresentar uma boa imagem durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

"Talvez haja uma tentação por parte deste governo para limpar as ruas, uma pressa em tratar de questões de segurança pública, sem o devido cuidado com os Direitos Humanos, para fazer um grande show para a imprensa internacional", advertiu Pillay.

Durante a coletiva em que fez um balanço da sua visita de sete dias ao Brasil, a representante da ONU reconheceu os avanços do governo Lula na área dos Direitos Humanos, mas ressaltou que o país ainda tem enormes desafios.
Entre os maiores problemas, estão a discriminação de indígenas e afro-descendentes, os altos níveis de violência contra a mulher, as condições degradantes nas penitenciárias brasileiras e as execuções extrajudiciais, tortura e tratamento cruel por parte das forças de segurança pública do Brasil.

"A maneira de parar a violência não é recorrendo à violência. É necessário ganhar a confiança das comunidades onde a violência está a acontecer. Isto jamais acontecerá na frente de uma arma", afirmou.

Pillay indicou que as principais vítimas da violência urbana no Brasil são os negros e que uma das principais causas das suas mortes é o uso excessivo da força por agentes policiais, milícias, assim como bandidos e traficantes de droga.
Além disso, ela lembrou que milhões de afro-descendentes e indígenas estão "atolados na pobreza" e não têm acesso a serviços básicos e a oportunidades de emprego.
"A maior parte dos povos indígenas não está a beneficiar do impressionante processo econômico do país e está retida na pobreza pela discriminação e indiferença, expulsa das suas terras e sujeita às armadilhas do trabalho escravo", declarou.
Pillay, a primeira mulher negra a ser nomeada juíza na África do Sul por Nelson Mandela, observou, nos seus contatos feitos em Salvador, Rio de Janeiro e Brasília, que há poucos afro-brasileiros em altos cargos no país e nenhum indígena.

A representante das Nações Unidas abordou também, no seu encontro, quinta-feira, com o presidente Lula, um tema sensível para o Brasil: as violações dos Direitos Humanos durante a ditadura.
"O Brasil é o único país da América do Sul que não tomou medidas para enfrentar os abusos cometidos durante o período do regime militar. Há maneiras de fazer isto evitando reabrir feridas do passado e ajudar a curá-las. A tortura, no entanto, é uma exceção: é um crime contra a humanidade e não pode ficar impune", assinalou.
Pillay sugeriu ao presidente brasileiro que crie uma Comissão de Verdade e Reconciliação e, segundo a alta-comissária, o chefe de Estado brasileiro manifestou-se aberto à proposta.

Matéria Do Agencia Lusa

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Foto AMB

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